Crônica “Mais COR, por favor!”, em Vida a Sete Chaves

Beco_41

Passo 1.: pinte a régua com canetinhas coloridas.

Passo 2.: passe cola branca na régua.

Espere secar completamente.

Puxe a película com cuidado para não rasgar.

Antigamente, era essa uma das minhas diversões: sentia-me uma completa artista a cada vez que puxava as películas de cola para ver as cores, as combinações… Gastava tubos, levava bronca da mãe a cada vez que ela se via obrigada a comprar outra cola pra mim. Porque régua transparente não era legal.

Hoje, alguns bons anos depois da indignação da régua sem cor, vejo graça quando vejo os muros de favelas, de conjuntos habitacionais sendo pintados, gosto de muros coloridos, de andar no metrô e ver que cada estação é de um tom. Vejo graça nas ruas coloridas, nas intervenções artísticas que brincam com a cidade.

É como se o mundo sorrisse.

Porque o cinza do concreto duro se esvai entre as pinceladas e a vida parece mais leve. A secura do cimento é umedecida pelas tintas que escorrem por ele. A braveza dos muros é amolecida e nos abraça quando passamos. Por isso ainda confio na poesia escondida por entre os tijolos, deitada nos asfaltos, correndo com o tempo da cidade que não pára.

E então lembro dos meus aparelhos ortodônticos, cada semana com uma borrachinha diferente.

E eu sorria.