Crônica “Sobre aquilo que se vê”, em Vida a Sete Chaves

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Sempre afirmei que a maravilha e a desgraça do mundo é o tal ponto de vista. Maravilha porque isso nos dá visões diferentes sobre um mesmo assunto – o que é muito bom!; desgraça porque cada um tem o seu e briga fervorosamente por ele, ignorando os demais – ignorando as pessoas, inclusive.

Difícil mesmo é enxergar o lado oposto, ou que ele ainda não seja oposto por ser divergente, mas por apenas não ser o seu próprio. Papai sempre disse que eu não fizesse nada ao outro que eu não quisesse que o fizessem para mim e isso sempre fez tanto sentido que hoje essa máxima me justifica tanta desgraça “nível besta” no mundo.

O poder de se colocar na situação alheia para entendê-la, e então avaliar os porquês das ações, é tão mais profundo do que se pensa… Mas cada vez menos encontramos quem enxerga o coletivo, é como se as pessoas estivessem socialmente míopes: tudo o que sair do entorno “meu interesse” não é percebido.

E percebido é a melhor palavra que se poderia usar, porque no fundo todos sabem como agir, é quase que natural, basta olhar como os animais (os tais “irracionais) agem quando em bando… Basta que se desprenda dos valores comerciais que nos impõem para que se enxergue os valores sociais. Voilá Três Mosqueteiros: “um por todos e todos por um”. A frase marcou época, virou jargão e perdeu todo o sentido que carregava. Como se fosse bonito pensar somente em si mesmo.

A pérola do carnaval – mas que época para um pensamento assim! – foi escutar uma música dos Paralamas do Sucesso (salve!) em que diziam que quando não se pensa cada um não se pensa nenhum. Perfeito!, esse é o ponto, foi disso que sempre falei!, mas parece tão difícil de ser entendido, parece que é preciso decifrar a arte de se viver em sociedade quando, no fundo, era só viver.

Felizmente, ainda temos no mundo alguns grãos de areia que se transformam em pérolas e que abrilhantam a vida com seus corações de ouro, com suas cabeças limpas e vozes francas, expondo e vivendo uma verdade bonita, uma verdade coletiva, que serve a todos. Essas andorinhas voam quase sozinhas, quase sem forças, mas voam sem parar. Por elas eu sorrio, por elas eu luto e por elas eu escrevo.