Dica de Leitura: “Mar Morto”, de Jorge Amado

Esse romance inebria a todos. É bom que você se prepare.

Todos sabemos que Jorge Amado é bom, mas quando lemos seus livros, descobrimos que o nível do bom que o classificam vai muito além da nossa vã filosofia.

Seus personagens, seus lugares, a sina de cada um é tão real, Guma e Lívia são tão reais, que se constróem quase que fisicamente enquanto a leitura discorre. Cremos até ser capazes de encontrá-los navegando o Valente nos mares da Bahia, disputando corrida com Mestre Manuel e o Viajante sem Porto.

A cronologia temporal é quebrada logo de início, quando Livia espera Guma voltar de uma de suas viagens, observando as luzes dos saveiros no mar, sonhando e medrando que seu amor não volte. Em seguida, a história reconta a infância do protagonista, que mora com o velho Francisco, tio que o criou desde o abandono da mãe e morte do pai. Daí por diante a linha temporal retoma o eixo e mantém a linearidade.

A Bahia está presente durante toda a narrativa e não figura apenas como plano de fundo. J. Amado retrata com muita beleza os ares portuários, os amores que nascem e crescem no cenário baiano e os amores que Dona Janaína toma para si nas noites de tempestade. Somos levados pelas canções que embalam as viagens dos marítimos, canções cantadas pelo negro Jeremias, que do forte vê os saveiros que vem e vão e as mulheres que ficam no porto, como que esperando o dia da viuvez – destino irrevogável.

é doce morrer no mar… E nenhum dos mestres de saveiro discorda, e esperam um dia serem desejados por Iemanjá, a mãe e amante de todos.

Para completar o clima de Bahia, recomendo a leitura também de Capitães de Areia. Escrito dois anos antes de Mar Morto, na minha opinião esses dois livros se completam. Lê-los, um seguido do outro, nos dá a nítida sensação de estar nas terras primeiras do Brasil.

Isso tudo sem falar no adorável posfácio de Ana Maria Machado. Dispensa comentários, porque só lendo mesmo…